Ouvi e transcrevi a entrevista com a Jú, e suas palavras, como poderão ler, são cheias de sabedoria, entendimento, compreensão da sua própria história. Se fosse escrever, estragaria, iria filosofar, enfeitar uma trajetória linda, pra quê!…

Me segurei, mas ao ouvir, tudo que ela dizia me remetia às teorias de um filósofo que amo, Baruch Spinoza,
com quem aprendi que a nossa trajetória, a de cada um, não é escrita previamente, depende de encontros e de uma predisposição para se estar aberto e deixar que estes aconteçam.

“Percebi que todas as coisas que temia e receava só continham algo de bom ou de mau
na medida em que o ânimo se deixava afetar por elas.”  Baruch Spinoza

Aproveitem!

Conhecer a história da Jú é também poder conhecer a história da Ecofeira, esse fazer junto!


Juliana Seivalos

Caucaia do Alto – “Não tinha opção…”

“Quando eu peguei a Raposo Tavares a primeira vez na minha vida, eu falei nunca mais eu volto aqui”.  Há 30 anos era muito perigosa.

Fiz faculdade em Campinas, Ciências Contábeis. Minha mãe comprou uma chacrinha em Caucaia do Alto para ter uma qualidade de vida melhor.

Quando eu me formei, com 22 anos, eu já vim morar em Caucaia, eu não tinha outra opção – ou vir morar aqui ou ir morar sozinha. Resolvi vir morar com minha mãe, porque ela estava doente, estava com câncer, e tinha que fazer os tratamentos.

Ela melhorou, mas acabou falecendo infelizmente, dez anos depois, quando nasceu minha filha. Hoje,
sinceramente, eu jamais trocaria esta qualidade de vida para morar em São Paulo. Jamais, jamais!! Eu amo tudo isso, se vê né?! Meu olho até brilha, eu amo a Raposo Tavares… (Risos!)

As Empadas – “Nunca imaginei…”

Nunca imaginei que um dia as minhas empadas se tornariam uma comidinha que todos gostam. Comecei fazendo para minha filha, para levar em festinhas, era meu hobby para festinhas.

Fiz minha vida aqui, me casei, tive minhas filhas, trabalhava em uma administradora de condomínios da Granja, fazia toda parte financeira, eu sou contadora. Aqui minha vida andou.

Aos 35 anos, 10 anos atrás, saí do meu emprego, fui mandada embora, me separei, com duas meninas de 5 e 10 anos.

E daí, desempregada, separada, comecei a lembrar do que o pessoal me falava: “Meu, faz essas empadinhas para vender, faz essas empadinhas para vender…” E comecei a fazer! Oferecia para uma amiga, oferecia para outro, e a hora que comecei a ver que o negócio estava apertando mesmo, que só de oferecer para amigo não ia acrescentar nada, comecei a correr atrás de grupos, feiras, vender de porta em porta, e todo dia voltava para casa, com o dinheirinho contado. Aquele negócio, né?, vende o almoço para comprar a janta!

E começou a dar certo, começaram a ficar famosas as empadas da estrada de Caucaia, mas como eu não tinha condições de ter um ponto, tive a ideia de comprar uma tenda e montar na estrada de Caucaia. Fiquei sete anos alí, e só tirei agora porque a estrada está em obras. E para falar a verdade, descobri que não fez
falta parar, coloquei tudo no lápis, eu tinha muito custo com funcionário.

Amo fazer as empadas, já tenho minha rotina: durante o dia faço os recheios, a massa já descansando, e à noitinha, quando o pessoal está lá dentro assistindo televisão, vou para sala de jantar, sento na minha bancadinha e começo a montagem – 10, 11, meia noite, atéééé…. Minha terapia!

A Ecofeira – O Convite

E numa destas feiras, fui convidada pela Cris Oka para participar da Ecofeira. Fiz o processo seletivo no Mario Schenberg, com a professora Lúcia, há 5 anos.  Provaram as empadas, avaliaram os produtos que utilizava, como era feito o manuseio… e foi aprovada!

Comecei quando iniciou a feira no parque Teresa Maia, na sua primeira edição no parque em 2012.

Ecofeira X Empadas – Fazendo junto

No começo, eu tinha os recheios tradicionais: frango, palmito e camarão, que era o que atendia o meu público na época. Com a Ecofeira, vi que eu tinha um outro público, vegetarianos! Eu não tinha recheio vegano, não fazia com farinha integral, sem glúten, sem lactose, era aquela empada, só sabia fazer aquela. A Ecofeira que me trouxe toda esta sabedoria, comecei a pesquisar, fazendo testes e testes, e a degustação dos próprios clientes, que aprovavam ou não e davam dicas. Eu não sabia nem o que era shimeji, eu não sabia gente!! Não tenho vergonha de falar, porque eu não sabia mesmo!

Os recheios hoje? Quais são? Hoje há o shimeji com alho poró, shitake com berinjela, tomate seco com ricota, abobrinha … Entrei na Ecofeira com 03 sabores hoje tenho 17!

Mas o que a Ecofeira me trouxe de melhor foi aquela paz, aquele lugar, aquele público, né? Os próprios feirantes. Você chega ali de manhã, eu posso ter quebrado o pau na minha casa, com a minha filha que chegou tarde, que não me deixou dormir… isso acontece quase todo final de semana! (Risos). Posso sair
de casa bem brava, mas na hora que eu chego ali no domingo, tudo melhora!

Com os olhos marejados, diz: “Você vê, quando eu lembro, meu coração aperta, eu choro, viu?, sou muito emotiva!”

Bom lembrar que a Juliana, há mais de dois anos, colabora com a contabilidade da Ecofeira. Juntamente com a Isa e a Cris Marruecos, tomam conta das finanças, acabou agregando seus estudos à causa da Ecofeira.

Parabéns, Ju!!

Thereza Franco
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