Miriam

Eu não sabia, mas conheceria Miriam naquele domingo de março.

Chego à feira mais tarde do que eu pretendia. Domingo não é dia para se acordar a galopes. Antes de sair, coloco a louça suja na máquina, preparo o café que, logo, ficará morno – porque os domingos são mornos também.

Família pronta, hora de partir. Esqueço as sacolas novamente, e eu sei que me farão falta quando eu sair da feira carregada de frutas, legumes ou de outros produtos que não resisto. Tenho a sensação de que vou para um passeio, daqueles que minha família fazia quando eu era criança, e sem que eu entendesse o porquê, me sentia preenchida de afetos. Hoje compreendo que uma conversa na feira, um esbarrão com um amigo, sustentam a esperança para o recomeço: segunda-feira.

Estacionamos o carro e, antes que eu desça, através do vidro, vejo Isabela. Preciso falar com ela, eu penso, pois ainda não tenho um expositor para entrevistar e eu quero participar porque a escrita, para mim, não é morna como os domingos.

Isabela está sentada numa cadeira de praia junto às amigas. Entro no parque, e o sol, forte demais para um domingo morno, me enche de entusiasmo.

Caminho até ela, mas antes encontro Dani. Eu lhe dou um abraço, ela retribui com o carinho de sempre.

Compra os biscoitos que eu comprarei daqui a pouco. Pergunto como ela está, ela diz que está bem. Passo pelas barracas e resisto aos tomates vermelhos, pois antes preciso falar com Isabela que também usa um colar e bolsa vermelha. Ela se levanta e, novamente, recebo um abraço. Durante o passeio à Eco Feira receberei outros abraços, inclusive, de um encontro casual que terei com uma grande amiga na hora de ir embora. Eu explico à Isabela que não tenho quem entrevistar, pois aquela, escolhida por mim, não iria mais expor, mas eu preciso escrever, entende?

Meu filho nos oferece um suco de melancia, fresquinho, feito na hora. A gente agradece, mas antes Isa diz como é bom o suco da feira. Dou uma provadinha – ah, que maravilha! Falamos sobre o projeto. Ela me diz que irá viajar. Ao contrário daqui, estará muito frio, mas ela gosta. Engraçado uma carioca gostar de frio, penso.

E, entre encontros e conversas, sou apresentada à Miriam, a rosa da feira. A rosa que eu ainda não conhecia.

Mais uma vez, sou recebida com um abraço. Isa pede licença e se despede. Agradeço à Isa, agradeço a ela, agora.

Miriam é oriental. Pequena, traços delicados. Usa um avental lilás e um chapéu com abas grandes para, de certo, proteger sua pele sensível, parecida com porcelana, eu noto. Tentamos conversar e quebrar com o constrangimento do primeiro encontro, pela falta de intimidade, mas que será solidificada de forma tão intensa depois. Ainda não sabíamos, mas ficaremos íntimas nos próximos meses.

Chega um cliente antigo que encomendou uma muda de primavera. Miriam, com facilidade, se agacha, pega a muda, e eu percebo que ela fala com as mãos, com os braços, mexendo seu corpo, delicadamente, como o desabrochar de uma rosa vermelha. O vermelho da rosa é um pouco de Miriam.

Ela me diz que, além das suculentas sobre a mesa, colocadas em capsulas usadas de café, faz doces e tem uma estufa em Ibiúna. Chegam crianças, novos clientes, amigos e parceiros. Não conseguimos conversar muito, ela pede desculpas pela falta de atenção, e eu entendo, é claro. Entendo também, só de observá-la, o amor de Miriam pela vida, pela gente que passa, parando ou não no seu expositor, porque ela, Miriam, abre um sorriso e diz bom dia. Simples assim.

Preciso ir, Miriam também. Pego seu contato para marcarmos um encontro sem pressa. Falo que em breve ligarei, mas os meses seguintes viriam a galope, sem aviso, eu demoro a ligar.

Compro o que preciso, inclusive os tomates vermelhos. Para adiantar o almoço, peço à Claudia a última quiche. Sem sacolas, toda família se vê carregada de produtos, de cores, de texturas.

Já estou saindo quando vejo Renata, uma grande amiga. Com ela, o último abraço do dia.

Vou à Eco Feira mais duas vezes antes de ligar para Miriam. Não a encontro, pois ela só vai no primeiro e terceiro domingo do mês.

Sinto falta de seu sorriso.

Chega o outono, o ocre, o frio, as folhas caem.

Ligo para Miriam, um pouco sem graça pela demora, e pergunto se podemos marcar nosso encontro. Ela, gentilmente, aceita e me faz o convite: você não quer ir comigo à estufa? Olhamos nossas agendas, muitos feriados, e marcamos numa terça-feira, pela manhã.

No dia agendado, acordo ansiosa. O que se pergunta para alguém como ela, tão especial, que trata as pessoas, as plantas, o céu como se fossem presentes de um deus?

Entro na Raposo, sentido interior. O trânsito está bom e não irei me atrasar. Pegarei Miriam na sua casa, num condomínio em Vargem Grande Paulista. Na portaria, o segurança faz meu cadastro, pede documentos, liga para ela. Pergunto onde é a rua. Vire aqui, e siga reto, ele diz. Na esquina, Miriam me aguarda com um sorriso aberto: bom dia, Deborah!

Ela me convida para entrar, agradeço, mas acho melhor irmos direto. Eu e ela teremos muitas coisas a fazer. No percurso, conversamos sobre família, trabalho, sobre o seu mundo e o meu. Coordenadas sem subordinação.

Estamos adentrando num novo espaço: o da confiança e da intimidade. Fico sabendo de sua infância, que nasceu em São Roque, mas se criou em Vargem Grande. Conta-me sobre seus pais, produtores de ovos para reprodução, do trabalho, da fase de estudante no internato japonês. Mesmo com a rigidez da escola, Miriam me diz que aprendeu muito lá, que foi feliz. Falamos ainda sobre a educação oriental, no caso, a japonesa.

Eu falo da admiração que tenho por esta cultura e da importância do esforço. E com esforço, Miriam e Edson, seu marido, criaram dois filhos – ela me conta.

Duas vidas geradas por Miriam.

Chegamos ao sítio. Ela abre o portão e seguimos por uma trilha. A estufa fica na parte baixa, é preciso descer, ela me diz.

Estaciono o carro e, quando o desligo, sou surpreendida por uma sensação diferente: tudo está calmo ao nosso redor.

A estufa é enorme, 5.000 metros quadrados, quente, úmida. Logo na entrada, Miriam me apresenta à Romilda, esposa de Batista, seus colaboradores. Miriam é imensamente agradecida a eles, pois se a estufa é o útero onde Miriam “gera” as plantas, Romilda e Batista são o cordão umbilical da estufa.

Emociono-me ao ver o amor deles com as plantas, pois o mundo não seria melhor se fosse uma estufa como a de Miriam?

Enquanto caminhamos, ela me conta mais histórias, sobre o começo, os recomeços. De quando perdeu uma estufa inteira de crisântemos porque, não sendo os de poda, cresceram demais e tombaram. Mas, novamente, tentaram. Dessa vez, ganharam de um amigo o tipo certo de crisântemo. Plantaram, regaram, podaram para, enfim, colherem os frutos do esforço: no dia de Finados, venderam toda a mercadoria. A flor, símbolo do sol nascente, finalmente, se abriu para Miriam e sua família.

Trabalharam com crisântemos por anos, mas, com flores tão sensíveis às pragas, era necessário a utilização de pesticidas. Miriam, por precaução e convicção, não cultivou mais crisântemos.

Parou. Gerou. Esperou.

Voltou com as folhagens e suculentas.

Dentro da estufa, sobre uma bancada, sua coleção de suculentas; de todos os tipos, tamanhos, texturas. Os cactos, enormes, me deixam impressionada. Miriam apresenta-me a elas, as guardiãs do útero, da estufa. Por serem um reservatório de água, as suculentas não precisam de muita rega, explica Miriam enquanto caminhamos por entre os corredores que ligam as bancadas. Fico sabendo que a rega das outras plantas se dá através de um dispositivo, chamado de bomba, ligado diretamente aos vasos.

A esta hora, já estamos íntimas, protegidas por algo que nos torna semelhantes. Quando chegar à sua casa, descobrirei que gostamos de gente, da vida; mas daqui a pouco, somente quando deixarmos a estufa e Romilda num passado compartilhado por duas mulheres, Miriam e eu.

O tempo passa depressa quando, no silêncio, escutamos aquilo que se faz silêncio quando não estamos na paz.

– Vamos, então, Deborah.

Eu, preenchida de paz e carregada de plantas, presentes de Miriam, dou um abraço em Romilda e me despeço.

Já na estrada, agora mais íntimas, falamos dos sonhos, das realizações e frustações de uma vida. Ela me conta sobre a Eco Feira, da alegria que sente por ser expositora, desde o início do projeto, e sobre a importância do Outro, daquele que nos modifica e amplia nossos horizontes. Na feira, Miriam se expande.

De volta à sua casa, ela me oferece um café e, dessa vez, aceito. Antes de entrar, ela tira os sapatos, e eu repito o mesmo gesto, mas ela me diz que não, não precisa; eu os tiro assim mesmo. Uma questão de respeito, eu penso.

Enquanto a cafeteira esquenta, ela me leva para conhecer a casa. Compreendo, então, a nossa semelhança: como eu, ela gosta de gente! Muitas mesas, cadeiras, praticidade num espaço planejado para receber.

Ficamos na cozinha, sentadas, uma de frente para outra, conversando. Entre goles de café e palavras, ela traz um bombom de menta. Eu não resisto e como dois. Sobre a mesa, seu fichário de receitas. Miriam também faz doces. Ela compartilha do mesmo amor na estufa ou na cozinha.

Agora, escrevendo, reflito sobre Miriam e concluo que existe tanto amor nesta mulher, que é mesmo necessário uma estufa, algo feito para sossegar seu coração, pois se aquilo que não sai, pressiona, é fundamental deixar o seu amor transbordar… De Miriam, o amor sai a galopes!

Eu não sabia, mas conheceria Miriam naquele domingo de março.

Chego à feira mais tarde do que eu pretendia. Domingo não é dia para se acordar a galopes. Antes de sair, coloco a louça suja na máquina, preparo o café que, logo, ficará morno – porque os domingos são mornos também.

Miriam

Família pronta, hora de partir. Esqueço as sacolas novamente, e eu sei que me farão falta quando eu sair da feira carregada de frutas, legumes ou de outros produtos que não resisto. Tenho a sensação de que vou para um passeio, daqueles que minha família fazia quando eu era criança, e sem que eu entendesse o porquê, me sentia preenchida de afetos. Hoje compreendo que uma conversa na feira, um esbarrão com um amigo, sustentam a esperança para o recomeço: segunda-feira.

Estacionamos o carro e, antes que eu desça, através do vidro, vejo Isabela. Preciso falar com ela, eu penso, pois ainda não tenho um expositor para entrevistar e eu quero participar porque a escrita, para mim, não é morna como os domingos.

Isabela está sentada numa cadeira de praia junto às amigas. Entro no parque, e o sol, forte demais para um domingo morno, me enche de entusiasmo.

Caminho até ela, mas antes encontro Dani. Eu lhe dou um abraço, ela retribui com o carinho de sempre.

Compra os biscoitos que eu comprarei daqui a pouco. Pergunto como ela está, ela diz que está bem. Passo pelas barracas e resisto aos tomates vermelhos, pois antes preciso falar com Isabela que também usa um colar e bolsa vermelha. Ela se levanta e, novamente, recebo um abraço. Durante o passeio à Eco Feira receberei outros abraços, inclusive, de um encontro casual que terei com uma grande amiga na hora de ir embora. Eu explico à Isabela que não tenho quem entrevistar, pois aquela, escolhida por mim, não iria mais expor, mas eu preciso escrever, entende?

Meu filho nos oferece um suco de melancia, fresquinho, feito na hora. A gente agradece, mas antes Isa diz como é bom o suco da feira. Dou uma provadinha – ah, que maravilha! Falamos sobre o projeto. Ela me diz que irá viajar. Ao contrário daqui, estará muito frio, mas ela gosta. Engraçado uma carioca gostar de frio, penso.

E, entre encontros e conversas, sou apresentada à Miriam, a rosa da feira. A rosa que eu ainda não conhecia.

Mais uma vez, sou recebida com um abraço. Isa pede licença e se despede. Agradeço à Isa, agradeço a ela, agora.

Miriam é oriental. Pequena, traços delicados. Usa um avental lilás e um chapéu com abas grandes para, de certo, proteger sua pele sensível, parecida com porcelana, eu noto. Tentamos conversar e quebrar com o constrangimento do primeiro encontro, pela falta de intimidade, mas que será solidificada de forma tão intensa depois. Ainda não sabíamos, mas ficaremos íntimas nos próximos meses.

Chega um cliente antigo que encomendou uma muda de primavera. Miriam, com facilidade, se agacha, pega a muda, e eu percebo que ela fala com as mãos, com os braços, mexendo seu corpo, delicadamente, como o desabrochar de uma rosa vermelha. O vermelho da rosa é um pouco de Miriam.

Ela me diz que, além das suculentas sobre a mesa, colocadas em capsulas usadas de café, faz doces e tem uma estufa em Ibiúna. Chegam crianças, novos clientes, amigos e parceiros. Não conseguimos conversar muito, ela pede desculpas pela falta de atenção, e eu entendo, é claro. Entendo também, só de observá-la, o amor de Miriam pela vida, pela gente que passa, parando ou não no seu expositor, porque ela, Miriam, abre um sorriso e diz bom dia. Simples assim.

Preciso ir, Miriam também. Pego seu contato para marcarmos um encontro sem pressa. Falo que em breve ligarei, mas os meses seguintes viriam a galope, sem aviso, eu demoro a ligar.

Compro o que preciso, inclusive os tomates vermelhos. Para adiantar o almoço, peço à Claudia a última quiche. Sem sacolas, toda família se vê carregada de produtos, de cores, de texturas.

Já estou saindo quando vejo Renata, uma grande amiga. Com ela, o último abraço do dia.

Vou à Eco Feira mais duas vezes antes de ligar para Miriam. Não a encontro, pois ela só vai no primeiro e terceiro domingo do mês.

Sinto falta de seu sorriso.

Chega o outono, o ocre, o frio, as folhas caem.

Ligo para Miriam, um pouco sem graça pela demora, e pergunto se podemos marcar nosso encontro. Ela, gentilmente, aceita e me faz o convite: você não quer ir comigo à estufa? Olhamos nossas agendas, muitos feriados, e marcamos numa terça-feira, pela manhã.

No dia agendado, acordo ansiosa. O que se pergunta para alguém como ela, tão especial, que trata as pessoas, as plantas, o céu como se fossem presentes de um deus?

Entro na Raposo, sentido interior. O trânsito está bom e não irei me atrasar. Pegarei Miriam na sua casa, num condomínio em Vargem Grande Paulista. Na portaria, o segurança faz meu cadastro, pede documentos, liga para ela. Pergunto onde é a rua. Vire aqui, e siga reto, ele diz. Na esquina, Miriam me aguarda com um sorriso aberto: bom dia, Deborah!

Ela me convida para entrar, agradeço, mas acho melhor irmos direto. Eu e ela teremos muitas coisas a fazer. No percurso, conversamos sobre família, trabalho, sobre o seu mundo e o meu. Coordenadas sem subordinação.

Estamos adentrando num novo espaço: o da confiança e da intimidade. Fico sabendo de sua infância, que nasceu em São Roque, mas se criou em Vargem Grande. Conta-me sobre seus pais, produtores de ovos para reprodução, do trabalho, da fase de estudante no internato japonês. Mesmo com a rigidez da escola, Miriam me diz que aprendeu muito lá, que foi feliz. Falamos ainda sobre a educação oriental, no caso, a japonesa.

Eu falo da admiração que tenho por esta cultura e da importância do esforço. E com esforço, Miriam e Edson, seu marido, criaram dois filhos – ela me conta.

Duas vidas geradas por Miriam.

Chegamos ao sítio. Ela abre o portão e seguimos por uma trilha. A estufa fica na parte baixa, é preciso descer, ela me diz.

Estaciono o carro e, quando o desligo, sou surpreendida por uma sensação diferente: tudo está calmo ao nosso redor.

A estufa é enorme, 5.000 metros quadrados, quente, úmida. Logo na entrada, Miriam me apresenta à Romilda, esposa de Batista, seus colaboradores. Miriam é imensamente agradecida a eles, pois se a estufa é o útero onde Miriam “gera” as plantas, Romilda e Batista são o cordão umbilical da estufa.

Emociono-me ao ver o amor deles com as plantas, pois o mundo não seria melhor se fosse uma estufa como a de Miriam?

Enquanto caminhamos, ela me conta mais histórias, sobre o começo, os recomeços. De quando perdeu uma estufa inteira de crisântemos porque, não sendo os de poda, cresceram demais e tombaram. Mas, novamente, tentaram. Dessa vez, ganharam de um amigo o tipo certo de crisântemo. Plantaram, regaram, podaram para, enfim, colherem os frutos do esforço: no dia de Finados, venderam toda a mercadoria. A flor, símbolo do sol nascente, finalmente, se abriu para Miriam e sua família.

Trabalharam com crisântemos por anos, mas, com flores tão sensíveis às pragas, era necessário a utilização de pesticidas. Miriam, por precaução e convicção, não cultivou mais crisântemos.

Parou. Gerou. Esperou.

Voltou com as folhagens e suculentas.

Dentro da estufa, sobre uma bancada, sua coleção de suculentas; de todos os tipos, tamanhos, texturas. Os cactos, enormes, me deixam impressionada. Miriam apresenta-me a elas, as guardiãs do útero, da estufa. Por serem um reservatório de água, as suculentas não precisam de muita rega, explica Miriam enquanto caminhamos por entre os corredores que ligam as bancadas. Fico sabendo que a rega das outras plantas se dá através de um dispositivo, chamado de bomba, ligado diretamente aos vasos.

A esta hora, já estamos íntimas, protegidas por algo que nos torna semelhantes. Quando chegar à sua casa, descobrirei que gostamos de gente, da vida; mas daqui a pouco, somente quando deixarmos a estufa e Romilda num passado compartilhado por duas mulheres, Miriam e eu.

O tempo passa depressa quando, no silêncio, escutamos aquilo que se faz silêncio quando não estamos na paz.

– Vamos, então, Deborah.

Eu, preenchida de paz e carregada de plantas, presentes de Miriam, dou um abraço em Romilda e me despeço.

Já na estrada, agora mais íntimas, falamos dos sonhos, das realizações e frustações de uma vida. Ela me conta sobre a Eco Feira, da alegria que sente por ser expositora, desde o início do projeto, e sobre a importância do Outro, daquele que nos modifica e amplia nossos horizontes. Na feira, Miriam se expande.

De volta à sua casa, ela me oferece um café e, dessa vez, aceito. Antes de entrar, ela tira os sapatos, e eu repito o mesmo gesto, mas ela me diz que não, não precisa; eu os tiro assim mesmo. Uma questão de respeito, eu penso.

Enquanto a cafeteira esquenta, ela me leva para conhecer a casa. Compreendo, então, a nossa semelhança: como eu, ela gosta de gente! Muitas mesas, cadeiras, praticidade num espaço planejado para receber.

Ficamos na cozinha, sentadas, uma de frente para outra, conversando. Entre goles de café e palavras, ela traz um bombom de menta. Eu não resisto e como dois. Sobre a mesa, seu fichário de receitas. Miriam também faz doces. Ela compartilha do mesmo amor na estufa ou na cozinha.

Agora, escrevendo, reflito sobre Miriam e concluo que existe tanto amor nesta mulher, que é mesmo necessário uma estufa, algo feito para sossegar seu coração, pois se aquilo que não sai, pressiona, é fundamental deixar o seu amor transbordar… De Miriam, o amor sai a galopes!

Deborah Brum
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